O ano de 2019 não está sendo muito gentil com a América Latina. Do Equador ao Chile passamos pelas mais diversas crises nos diversos governos que carimbam uma nova América do sul. Diferente do breve período dos anos 2000 onde a esquerda dominou a cena de uma América do Sul mais pacifica e hermana. A década que segue nos mostra uma América do Sul mais separada ideologicamente. O clubinho dos países liberais (que incluem países como Chile, Argentina, Brasil etc.) e uma ala que ainda consegue manter (mesmo que de formas suspeitas) um governo de esquerda, como Venezuela e Bolívia.
O que chamou a atenção foi que nesse mês, em dois países diferentes coisas similares aconteceram — e continuam acontecendo. Devido a um descontentamento extremo da população após novos cortes na camada mais baixa da população — milhares de pessoas tomaram as ruas, primeiramente em tons modestos até que se escalaram a protestos violentos e mortes.
Manifestantes ateiam fogo em prédios na capital Quito no Equador
No início do mês, no Equador, o presidente Lenin Moreno anunciou cortes do pagamento de servidores entre outras medidas para redução de gastos, o estopim se deu ao anuncio do corte ao subsidio do combustível, que existe a décadas. No Chile na última semana, depois do aumento da passagem o povo, liderado em maioria por estudantes também foi as ruas. Uma onda de violência e um claro abuso da força do Estado marcou a escalada da violência entre manifestantes e a polícia. O Chile, embora seja uma das nações mais ricas da região é também uma das mais desiguais, e os manifestantes estão demandando essa distribuição, assim como críticas as privatizações que vem ocorrendo ao longo da década. No último domingo o governo respondeu colocando 10 mil tropas nas ruas da capital Santiago. O número de mortes já chega a 15. No Equador também foram registradas 5 mortes em consequência dos protestos.
Diferente das manifestações brasileiras de 2014 que contou com apoio partidário da oposição e de agentes do mercado o que o Chile e Equador tem em comum é uma crítica clara e direcionada: contra as medidas de austeridade e a favor de distribuição de renda. Esse toque genuíno de povo, estudantes, trabalhadores e indígenas como um todo e não como representantes de somente um setor foi justamente o que faltou no caso brasileiro que foi movido por protestos cheio nas ruas, mas vazio em significado ou de pedidos para mudanças concretas.
Seja em estados democráticos liberais, como o caso do Chile ou de uma esquerda "traidora de classe" como no Equador, a lição é a mesma: As pautas de igualdade e justiça social são antagônicas ao sistema capitalista, não pode haver um enquanto outro existir, pois o Estado é a forma de organização que classe dominante adota para proteção de sua propriedade e seus interesses. E sempre cabe ao povo os legítimos detentores do poder e do funcionamento da sociedade lembrar isso àqueles que insistem em esquecer quando não em época eleitoral.
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